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Publicado em 10 de junho de 2025 às 05:00
Muitas vezes apontado como causador de impactos negativos para a vida marinha, o plástico desta vez vai será mostrado como útil para a recuperação de corais durante a 3ª Conferência dos Oceanos da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada de 9 a 13 de junho, na cidade de Nice, na França. >
Uma iniciativa nascida no coração da Baía de Todos-os-Santos, o Corais da Maré utiliza uma tecnologia inédita para potencializar o crescimento da espécie de coral Millepora alcicornis, que já promoveu a recuperação em uma área de 7 mil metros quadrados (m²) no fundo do mar da região.>
Desenvolvido pela Carbono 14 em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e o Instituto de Pesca Artesanal de Ilha de Maré (IPA), com patrocínio da Braskem, o Corais de Maré alcançou em três anos de atividades excelentes resultados com o uso do polietileno na aceleração do crescimento vertical dos corais.>
“A estimativa de crescimento dos corais numa profundidade de cerca de 4,5 metros é de quatro centímetros ao ano. Contudo, com a nossa técnica de aceleração de crescimento, atingimos médias que variam de 10,8 a 7,8 centímetros em 167 dias, dependendo do material que utilizamos. Com o polietileno, por exemplo, uma colônia atingiu 15,5cm em menos de 6 meses”, explica Igor Cruz, professor de Oceanografia Biológica do Instituto de Geociências da UFBA e que atua no projeto. >
Além do polietileno, outros materiais como, cerâmica e aço inox, são empregados na recuperação dos corais. “Eles não precisam crescer por deposição de carbonato de cálcio. Crescem sobre as hastes que colocamos, o que acelera muito seu desenvolvimento, consequentemente aumentando a complexidade estrutural dos recifes no local, que é fundamental para a manutenção da biodiversidade”, acrescenta Igor Cruz.>
Desde seu início, o Corais de Maré já transplantou 2.285 colônias de corais na Baía de Todos-os-Santos, sendo 685 delas apenas entre 2024 e 2025. A taxa de sucesso nos berçários é, também, motivo de comemoração. Apesar da maior onda de calor da série histórica, registrada em 2024, apenas 185 das 667 colônias instaladas até maio do ano ado sofreram branqueamento, e apenas 19 não resistiram — uma taxa de mortalidade de apenas 3%. Isso representa um índice de sucesso de 97% nos berçários.>
“Acredito no poder transformador da ciência e da inovação quando colocadas a serviço do meio ambiente — e este projeto é a prova disso. Ao utilizar uma tecnologia inédita e sustentável, aliando materiais como o plástico de forma inteligente para acelerar o crescimento de corais na Baía de Todos-os-Santos, o Corais de Maré mostra como é possível unir desenvolvimento tecnológico e preservação ambiental”, afirma Magnólia Borges, gerente de Relações Institucionais da Braskem na Bahia.>
De Ilha de Maré para o mundo>
Com um modelo que une inovação, engajamento comunitário e compromisso com a biodiversidade marinha, o Corais de Maré chega à 3ª Conferência dos Oceanos da ONU, que busca acelerar ações globais pela conservação e uso sustentável dos mares, como um exemplo inspirador de como as ações locais podem gerar impactos globais.>
O projeto será apresentado ao embaixador dos pólos e dos assuntos marítimos da França, Olivier Poivre d'Arvor, pelo CEO da Carbono 14 e idealizador da iniciativa, José Roberto Caldas, mais conhecido como Zé Pescador. “Nunca imaginei ser convidado pela embaixada sa a participar da Conferência dos Oceanos, por causa do trabalho com o Corais de Maré. Fico feliz que as pessoas vejam o valor no que a gente está fazendo”, orgulha-se Zé Pescador.>
Com técnica inédita, o Corais de Maré utiliza o esqueleto do Coral-sol, espécie considerada invasora na região, como base na produção de sementeiras para cultivo do coral nativo Millepora alcicornis. Essas sementeiras são instaladas em berçários no fundo do mar, sendo fixadas com plástico e outros materiais, e depois são transferidas para povoar uma área de recifes que fica aproximadamente a seis quilômetros da costa. Apesar do Coral-sol ameaçar a biodiversidade marinha da Baía de Todos-os-Santos, seu esqueleto serve como uma excelente matéria-prima para a recuperação da espécie nativa, pois possui carbonato de cálcio, um material riquíssimo.>
Além do impacto ambiental direto, o Corais de Maré atua na capacitação de jovens moradores da Ilha de Maré, em Salvador, como agentes ambientais e para atuação direta na ação, além da realização de oficinas de restauração de corais com pescadores locais, fomentando o engajamento comunitário e o compartilhamento de conhecimento.>
Outro aspecto do projeto é o Corais de Maré vai à Escola, ação lúdica e educativa que é realizada em escolas públicas da região. Durante a atividade, alunos e professores do Ensino Fundamental I e II podem conhecer a experiência vivenciada pelos integrantes do projeto, além de participar de jogos de perguntas e respostas, possibilitando a fixação do conhecimento. A ação conta também com exposição de materiais usados no projeto, para que os alunos possam conhecer de perto berçários, sementeiras e alguns tipos de corais, além de roupas de mergulho e equipamentos utilizados durante os trabalhos.>
Em 2024, a ação envolveu 115 alunos e 13 professores das escolas municipais de Bananeira, Botelho e Claudemira Santos Lima, na comunidade de Santana, em Ilha de Maré.>