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Mãe de Miguel, Mirtes Renata defende TCC e tira nota máxima: 'Continuei pelo meu filho'

Ex-doméstica se inspirou na própria história para iniciar a carreira acadêmica após perder o filho sob os cuidados da ex-patroa

  • Foto do(a) author(a) Ana Beatriz Sousa
  • Ana Beatriz Sousa

Publicado em 11 de junho de 2025 às 13:28

Mirtes Renata, mãe de Miguel, defende TCC sobre escravidão contemporânea e tira nota máxima
Mirtes Renata, mãe de Miguel, defende TCC sobre escravidão contemporânea e tira nota máxima Crédito: Acervo pessoal

A trajetória de dor e superação de Mirtes Renata Santana de Souza ganhou um novo capítulo nesta terça-feira (10). Quase cinco anos após a trágica morte do filho Miguel, aos 5 anos de idade, ela defendeu o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da graduação em Direito e conquistou nota máxima. O tema escolhido foi "escravidão contemporânea", uma escolha profundamente conectada à sua vivência e à luta que decidiu encarar desde então.

Miguel Otávio Santana da Silva morreu em junho de 2020 ao cair do nono andar de um prédio de luxo no Recife. Ele estava sob os cuidados de Sarí Corte Real, ex-primeira-dama da cidade de Tamandaré, enquanto Mirtes, então empregada doméstica da família, havia saído para ear com o cachorro dos patrões. A tragédia transformou a vida de Mirtes e a impulsionou a buscar a justiça como instrumento de transformação social.

"ei por muitos momentos difíceis, pensei em desistir várias vezes. Mas o que me motivou a continuar foi o meu filho. Estou concluindo esse curso por ele", afirmou emocionada.

Mirtes Renata de Souza, mãe de Miguel, mostra foto com a família por Amanda Remígio/ Divulgação

Aprovada com nota 10 pela banca, Mirtes utilizou no TCC exemplos de casos emblemáticos de trabalho análogo à escravidão, como os de Madalena Gordiano e Sônia Maria de Jesus. Ela também incluiu trechos de sua própria história e dos abusos que presenciou durante os anos de trabalho doméstico.

"Foi pesado escrever, porque mergulhei nas histórias de outras mulheres, com trajetórias marcadas por exploração e violações. A maioria delas, mulheres negras, com pouca escolaridade e em situação de vulnerabilidade", disse Mirtes, que atualmente atua como assessora parlamentar na Assembleia Legislativa de Pernambuco e pretende seguir carreira como advogada trabalhista.

Apesar da apresentação bem-sucedida, a formatura oficial está prevista para dezembro, quando concluirá as disciplinas restantes.

Cinco anos sem Miguel

A apresentação do TCC acontece dias após o quinto aniversário da morte de Miguel. No último dia 2, Mirtes participou de um protesto no Recife pedindo agilidade à Justiça pernambucana. O movimento foi motivado pela recente redução da pena de Sarí Corte Real, de 8 anos e meio para 7 anos.

O Ministério Público de Pernambuco deve se manifestar até a próxima segunda-feira (16) sobre a decisão do Tribunal de Justiça de Pernambuco. A defesa de Mirtes estuda recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, para tentar reclassificar o crime de abandono de incapaz para homicídio.

"Esperamos que a Justiça seja feita não só por Miguel, mas por tantas outras mulheres e crianças que vivem sob a invisibilidade e o descaso. Essa luta é por todos nós", afirmou uma das advogadas do caso, Marília Falcão.

A história de Mirtes, marcada pela dor, se transforma em inspiração e exemplo de resistência em busca de um país mais justo.