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Wendel de Novais
Publicado em 10 de junho de 2025 às 08:06
Traficantes do Comando Vermelho (CV) pagaram R$ 2 milhões em propinas para policiais civis liberarem um caminhão com drogas durante uma ação policial. O caso foi revelado pelo Fantástico, na TV Globo, e mostrou áudios que atestam que houve uma negociação entre criminosos da facção e policiais depois de um caminhão com 10 toneladas de entorpecentes ter sido interceptado pelos agentes. >
O material ilícito tinha como destino o estado de Santa Catarina após traficantes terem ido ao Rio de Janeiro, onde houve a interceptação, para negociar com o CV no Complexo do Alemão. De acordo com informações da Polícia Federal, traficantes como Pezão e Doca, conhecidos por serem líderes da facção carioca, negociaram a carga com Carlos Alberto Koerich e seu sogro, Marcelo Luiz Bertoldo, na favela. >
As drogas, no entanto, saíram do Mato Grosso do Sul com nota fiscal de produtos congelados. Foi no estado do centro-oeste que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) parou o veículo e o encaminho para a Polícia Civil. Os policiais civis no local, porém, não prenderam o motorista. A investigação aponta que eles utilizaram o celular do motorista do caminhão para cobrar uma propina milionária para liberação da carga. >
Em uma conversa por aplicativo de mensagem, que foi interceptada pela polícia, a mulher de Carlos Alberto, que comprou a droga, fala para a sua mãe sobre a propina solicitada pelos agentes." Estão pedindo dois milhões para soltar a mercadoria. Eles querem dar um milhão e meio, eles tão pedindo dois", fala, em um áudio, Lucinara Koerich. Em outro áudio, Carlos fala com Lucinara: "Pô, tô no maior desenrole com o cana aqui, amor. Pegaram o caminhão ali na Serra das Araras ali", relata. >
A Polícia Federal entende que, por conta do caso, advogados ligados ao Comando Vermelho fizeram contato com os policiais civis para liberar a carga. A proposta da facção seria eles ficarem com 10% do valor, mas em outra mensagem, um deles reclama que não foi feito o pagamento. >
"Os caras seguiram com o dinheiro lá e tiraram os 10% e não deixaram nada para a gente. Os caras nem botaram a cara lá, pela amor de Deus. Essa parada é muita injustiça. Não pode ser assim não, mano. Os cara nem botaram a cara lá. Quem foi lá foi eu e o doutor. Ele que foi na madrugada e eu que fui lá depois deixar tudo na cara do gol, sem goleiro. Limpei tudo, deixei tudo no esquema já pra todo mundo se adiantar. A gente que fez essa correria', falou um advogado. >
Após as tratativas criminosas, o caminhão teve até escolta para deixar a Cidade da Polícia. Um dos investigados, o policial civil Deyvid da Silveira, fez à mão em um documento interno sobre a situação, garantindo que "nada foi encontrado" e " após contato com a empresa, o motorista foi encaminhado para o local determinado, apoiado pelos policiais", diferente do que foi dito pela PRF. >